sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Intolerância

Maiquinique, 30 de novembro de 2009, segunda feira.



Um dia marcado por uma noite trágica; descontrole, ódio, raiva, sangue, morte, espancamento, linchamento... Intolerância. Essa dita noite abalou o emocional da nossa comunidade, resultado daquilo que podemos chamar de: “chacina”. Hediondo, premeditado, infanticídio, homicídio, dolo, seja lá qual tenha sido o crime o fato é que o episódio fugiu totalmente a rotina da nossa cidade, até então, pacata cidade. Agora paira sobre nossas cabeças uma série de perguntas:  quem somos? Será que realmente somos um povo acolhedor, pacato, hospitaleiro? Historicamente quantas mortes foram necessárias para que hoje tivéssemos autonomia como município, o que os mais velhos não contam sobre a nossa emancipação? O que acontecia em nossas terras na época dos coronéis, nos bastidores da política? O que houve com os índios que deram nome ao nosso rio? Será que somos realmente um povo pacato, ou temos uma predisposição genética cruel e impiedosa adormecida no cotidiano da rotina? Na verdade, somos o que somos e desconhecemos nossa própria capacidade, tanto para o bem, quanto para o mal. Não somos um caso isolado, ao contrário, somos um caso novo, nos surpreendemos por ter acontecido “aqui” aquilo que se repete pelo mundo inteiro todos os dias. Tragédias como essa da noite da última  segunda feira, nos faz rever nossos conceitos sobre a humanidade. O que de fato acontece no profundo da mente humana? O que Freud não explica? Até que ponto pode chegar a crueldade? Existe bondade sem interesse, somos bons ou maus? Afinal, o que há no recôndito da natureza humana? Somos incapazes de detectar nas entrelinhas do diálogo a maldade nas pessoas, temos o errôneo hábito de diagnosticar o malvado nas pessoas mais explosivas, enquanto valorizamos os calados, os que poupam as palavras e escondem segredos no próprio silêncio. Infelizmente, homicidas não trazem na testa o nome “assassino” , estes muitas vezes ainda nem sabem que são assassinos, tudo depende de uma reação ou um estopim, resultante de uma determinada ação. Nietzsche dizia que: “não há fatos, mas sim, interpretações”. Sendo assim, qual deve ser a nossa interpretação sobre o que leva alguém a matar o próprio filho? Ou que não seja filho, mas uma criança ingênua, indefesa, pequena, inocente, incapaz de entender o perigo, ou ainda, incapaz de pedir socorro ou gritar por ajuda, apenas... Criança. Mãe e filho, ambos brutalmente assassinados, sabe-se lá por que. A verdade é que ninguém sabe ou vai entender na noite do dia 30, qual teria sido o real motivo que interrompeu abruptamente a vida de uma jovem mãe e seu pequeno filho, que certamente já era a razão da sua vida. Há rumores de que o algoz deste trágico episódio era home de confiança de uma autoridade influente em nossa cidade, se de fato isso é verídico as autoridades maiquiniquenses precisam urgentemente reavaliar seus conceitos sobre “confiança”. Por hora, tudo que se pode compreender nessa tragédia, foi a intolerância da comunidade que indignada condenou a morte o assassino dessas duas vidas. Aquele que deveria ser o pai terminou como o autor dessa fatalidade monstruosa, e a intolerância que o fez praticar esse duplo homicídio foi a mesma que o condenou a um fim doloroso e requintado com muita crueldade nas mãos da população inconformada pela perversidade que o mesmo praticou seus crimes. Ironicamente, 48 horas depois que a igreja católica promoveu um evento contra a violência em nossa cidade, foi assim que terminou a noite da ultima segunda-feira de novembro de 2009: três homicídios violentos repletos de crueldades e perversidades, pai mãe e filho, todos vítimas da intolerância. A única coisa que podemos afirmar depois dessa desgraça é a de que somos herdeiros legítimos da origem mal contada da nossa fundação, filhos do passado, agora mais presente do que nunca. De qualquer forma, a atitude covarde, premeditada e monstruosa de uma mente fraca e um coração vazio, alastrou a revolta e foi impossível conter a fúria e o ódio dos populares, que sentiram na alma a dor do assassinato brutal de uma criança indefesa, e isso acabou desencadeando a maior ação violenta dos últimos tempos em nossa cidade. Uma data sangrenta que manchará para sempre a história da nossa comunidade. Assim termino este texto fazendo uma pergunta e em seguida um comentário: se o delegado e os policiais já habituados a lidar com atrocidades diversas, ficaram chocados e perplexos após verem o corpo da criança ao lado da mãe morta, então como vamos dizer que um crime não justifica o outro? Se uma barbaridade dessas estremece o emocional de autoridades experientes, o que dizer da população de uma cidadezinha do interior? De certo que o povo radicalizou geral, mas como diria o famoso caçador africano, Aliakim Mabuto Zamba: “um animal selvagem oferece menos perigo quando está morto”





                                                                                                                             Por: Vicente Pedreira



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